quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O Boss

Agora que já acabou 2012, devo um post à pessoa que mais me marcou no ano que passou. Alguém que não faz a mínima ideia nem nunca vai saber. Alguém que já mudou a vida de milhares de pessoas, certamente. Estou a falar do Bruce Springsteen.

É engraçado ver a cara de algumas pessoas quando por acaso estamos a falar de música, concertos e afins e eu digo que o meu concerto preferido de 2012 foi o do Bruce Springsteen (e E Street Band) no Rock in Rio. Acho gira a reacção de quem não foi e tal como eu, até ali, nunca lhes tinha prestado grande  atenção (aquele misto de: "hum... tens a certeza?" e "se calhar não viste muita coisa este ano..."). Antes desse concerto eu pensava exactamente da mesma maneira.
Não é que eu tivesse alguma coisa contra ele(s) ou não suportasse a música mas não percebia qual o interesse. Não me conseguia identificar com um cota de 60 e tal anos que cantava sobre a classe operária/trabalhadora americana, sobre New Jersey e pelo meio provavelmente outras coisas que não me interessavam por aí além. Achava que não seria o tipo de artista que poderia acrescentar algo à minha vida. Ah! A ironia…

Acabei por decidir ir por curiosidade, um ou dois dias antes. Várias pessoas, amigos e conhecidos, influenciaram-me nesse sentido (e ainda bem).
Para quem não esteve lá ou não aprecia, sei que tudo o que vou escrever daqui para a frente vai parecer exagerado mas é autêntico. 
Nos primeiros momentos do concerto eu já estava completamente rendida, convencida, tudo. E na “Twist and Shout”, já mesmo no final, com o fogo de artifício e no meio de milhares de pessoas, ao ver a cara de felicidade em todas, ao ver o êxtase dos meus amigos, ao sentir o meu, a minha vida não poderia voltar a ser a mesma. O que sabia é que tinha acabado de ver mais que um concerto, muito mais que isso. Faltava era perceber em que medida tinha sido alterada a minha percepção da vida.

 No documentário The Promise: The Making of "Darkness on the Edge of Town" há uma parte em que a Patti Scialfa (da E Street Band e patroa do Boss) diz que a primeira vez que os viu ao vivo ficou chocada porque estava num sítio com milhares de pessoas e no entanto cada uma delas estava a ter uma experiência extremamente pessoal com tudo o que se estava a passar. Concordo em absoluto com ela.
Noutro momento do documentário, o Bruce diz que os concertos, a experiência de cada actuação ao vivo é algo que surge do nada. Não existe absolutamente nada naquele espaço e tempo até ao exacto momento em é tocado o primeiro acorde e de repente a banda e o público partilham algo que se manifesta num mundo completamente aparte, um conjunto de valores, uma forma inteiramente nova de pensar sobre a vida e o mundo à nossa volta. Todo um mundo de possibilidades e essa vivência nunca poderá ser subtraída a quem ali esteve.

Já vi muita coisa ao vivo. Concertos incríveis, inesquecíveis, inacreditáveis, emocionantes, interessantes, comoventes, arrebatadores, aborrecidos, fracos... Mas depois há uma categoria de concertos de uma vida. Daqueles que me marcaram profundamente: Pearl Jam a 4 de Setembro de 2006 e Dave Matthews Band em 2009. A esses juntei este concerto do Bruce Springsteen. É dizer muito, até porque eu já gostava bastante quer de Pearl Jam (não tanto quanto passei a gostar depois de 2006) quer de Dave M. Band antes de os ver ao vivo.

Há alturas em que sinto que gostava de ter começado a ouvi-lo há mais tempo mas os últimos seis meses da minha vida mostram-me que, pelos vistos, era mesmo suposto ser assim. Foi na altura em que eu mais precisava dele.
Como dizia acima, eu sabia que algo tinha mudado naquela noite. 
Quis descobrir o máximo que podia sobre este homem, sobre a sua música (algumas coisas descobri sozinha e em relação a outras tive a sorte de me deparar com este blog)
Isso coincidiu (será que há mesmo coincidências?...) com uma altura em que me comecei a aperceber de muita coisa em mim e à minha volta.
Tenho tido uma sorte incrível na vida, tenho pessoas maravilhosas comigo, vivências e experiências que me têm enriquecido enormemente como pessoa. Algumas tornaram-me mais flexível e outras tornaram-me mais dura. Isto de ser adulto tem coisas complicadas, é difícil de navegar por vezes, é um território desconhecido, inóspito, hostil até... Em muitas coisas, não é o que eu tinha sonhado ou idealizado. Não fazia parte dos meus planos mas é mesmo assim e cada um há-de perceber para si o que fazer com isso.
A vida não vai ser nunca absolutamente tudo o que queremos senão que há para aprender? Às vezes temos de largar a visão que tínhamos do que é suposto sermos ou fazermos e deixar a vida acontecer. E isso não significa deixar de participar, de intervir no nosso destino. Significa apenas deixar de lado o ressentimento quando os planos têm de ser alterados ou ajustados. Conjugar o que queremos com o que tem de ser feito.
Chego ao início deste ano com a percepção que o que mais quero em 2013 é continuar a descobrir o que houver para descobrir e pelo caminho, viver.

E o que é que o Bruce tem propriamente a ver com isso? Muito mesmo. Apercebo-me quando o ouço que não estou sozinha, algures lá atrás ele teve dúvidas e dores de crescimento iguais às minhas. Apercebo-me o quanto ele pode enriquecer a minha vida com a música dele, com a mensagem dele.

As a songwiter I always felt one of my jobs was to face the questions that evolve out of my music and search for the answers as best as I could find. For me, the primary questions I’d be writing about for the rest of my work life first took form in the songs on “Born To Run” (…). It was the album where I left behind my adolescent definitions of love and freedom.
“Born To Run” was the dividing line.

Este é um homem que procura no mais fundo dele e faz música com isso. Acerta-nos em cheio porque está a escrever sobre nós, afinal. A verdade dele é a de muitos de nós. E a verdade não é bonita mas é por ela que estamos , na minha forma de ver.  Ele é honesto com a arte dele, faz questão disso. Tem uma visão e quer sempre passá-la para música que faz. 

Most of my writing is emotionally autobiographical. You’ve got to pull up the things that mean something to you in order for them to mean anything to your audience. That’s how they know you’re not kidding.
With the record’s final verse, “Tonight I’ll be on that hill…” my characters stand unsure of their fate, but dug in and committed. By the end of “Darkness”, I’d found my adult voice.

Este post faz ainda mais sentido hoje. No dia em que estou um ano mais velha e continuo a descobrir a minha adult voice.

6 comentários:

  1. Belo texto, bem vinda ao maravilhoso mundo do Bruce Springsteen. Vou-lhe dar um conselho, e acredite que já vi mais de 40 concertos- Não fique à espera que ele venha a Portugal, vá vê-lo a Espanha ou Itália, num concerto só dele, e garanto-lhe que ainda vai gostar mais!
    Bom ano de 2013!
    Carlos Carmo

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    1. Muito obrigada! :)
      Mais de 40?! Que enorme fã!
      Estou à espera de saber mais datas da tour para me decidir. Se tudo correr bem, quero vê-lo novamente sim.

      Bom ano!

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  2. Tomei a liberdade de partilhar o teu magnifico texto no grupo "Bruce Springsteen Portugal" no Facebook (para veres que o Facebook tem muitas coisas boas!), para o dar a conhecer a quem já viveu a mesma experiência! :)

    Muito obrigado pela referência! A tua sorte foi, no caso, a minha sorte também. Que 2013 tenha mais Bruce Springsteen para todos nós, é o que eu desejo! ;)

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    1. Oh, muito obrigada! :)) Tenho de espreitar esse grupo do FB (se tiver acesso).

      Não tens nada que agradecer, nunca poderia escrever um post sobre o Bruce sem fazer referência ao teu blog.
      Sim, subscrevo esse desejo! :)

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  3. E sempre seguiste o conselho do Carlos do Carmo :) Gijón, sai da frente cõno. lol
    Cuida do zé belém. lol

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    1. lol Comprei num impulso porque ainda não tenho a certeza se poderei ir... mas esperemos que tudo corra bem. Alguém tem de tomar conta do Zé :p

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